trânsito habitual pouco antes do shopping eldorado na rebouças, e o velhinho sentado ao meu lado no busão me oferece o jornalzinho metro pra matar o tempo: ‘shinbun?’ olho meio desconfiada, que de japonês ele não tem nada! magro, rosto enrugado, cabelos grisalhos com grandes entradas na testa, óculos sobre olhinhos simpáticos.. típico italiano, eu diria! ele desconversou, mas bem que sabia falar nihongô. como eu, sem frases complexas ou mesmo completas, mas enganava bem.. contou que sabia falar o básico porque casou por miai, há 55 anos!! e que estava completando 78 agora dia 13 de junho, dia do santo que lhe deu o nome.
e graças ao trânsito matinal ele pôde me contar da sua história, desde a dificuldade de conseguir vaga em uma escola quando criança, as dificuldades da época da guerra, quando havia filas para comprar qualquer item: pão, leite ou carne, distantes quilômetros de sua casa.. e os primeiros empregos como pedreiro e mecânico de autos, e a oportunidade na polícia, quando pôde estudar e virou tenente. agora, aposentado, gastava o dia a visitar os amigos no quartel, na usp, no consultório odontológico..
contou-me ainda que patrulha os amigos e todos que cruzam seu caminho, para que sofram agora parando de fumar para viver uma boa vida depois.. ele próprio vítima de enfisema pulmonar devido a anos de fumaça, sofreu o medo de ter identificado em sua chapa de pulmão a ameaça de um mal maior num ponto brilhante junto à espinha.. mas ainda está forte para contar sua história aos mais jovens, e faz questão de fazê-la
tive a sorte de começar meu dia hoje ao lado do seu antônio no busão, e como poucas vezes na vida lamentei o fim da viagem.. poderia ter ficado de papo pro ar por várias horas com este velhinho simpático.. será que nos cruzamos nos busões da vida um dia novamente?
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